Voltando à praia

marcobrasil
2 min readJan 2, 2021

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Existe um abismo simbólico entre as pessoas que pisaram o leito seco do Mar Vermelho — pelo corredor aberto por Deus - e as pessoas que dele saíram. As pessoas que entraram no mar Vermelho eram escravas foragidas. As pessoas que saíram do mar Vermelho eram homens livres, livres para determinarem seus caminhos e para escolher, entre muitas opções, a de cumprirem o propósito que Deus tinha para eles: serem uma benção para todas as nações. Se até então elas serviam pelo imperativo do chicote, e exclusivamente ao maior império terrestre, agora estavam livres para abençoar a todas as nações.

Entre umas pessoas e outras, um mar dividido em dois por um vento soprado por Deus. Segundo Jon Paulien, em The deep things of God, a mesma palavra utilizada no hebraico para vento é a palavra utilizada no relato da criação para espírito. Assim, se na Criação o vento de Deus, ou o espírito de Deus, movia-se sobre a face das águas, se no dilúvio o vento de Deus, ou o espírito de Deus fez as águas recuarem para que Noé tivesse onde pisar os pés novamente, agora o vento de Deus, ou o espírito de Deus, abre um caminho na água para transformar o status de toda uma nação e possibilitar-lhe cumprir uma altíssima vocação. Uma vocação que Adão e Noé tinham falhado em cumprir.

Portanto, o povo atravessa um corredor aberto por um vento, ou pelo espírito. E a imagem do Espírito deitado longitudinalmente no Mar Vermelho, criando um corredor ladeado por grandes paredes de água, me encanta. Porque ela me mostra que o povo atravessa o próprio Espírito. O povo foi batizado no Espírito (como muito mais tarde o apóstolo Paulo vai observar). E, depois do batismo, ele é outro, completamente. E pode escolher. Antes ele não podia escolher, só podia morrer. A escolha, meu amigo, só é possível depois do batismo.

Ele é quem abre o caminho para podermos escolher. Ele é quem primeiro nos arranca da condição de escravos e condenados à morte para então colocar à nossa frente a benção e a maldição, a morte e a vida.

Mas pra isso precisamos passar pelo Espírito. E se, havendo feito isso, notamos que estamos escolhendo a morte, precisamos retornar à praia e atravessar o mar de novo. Ainda é tempo.

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marcobrasil

Cristão, adventista, marido da Tatiana, pai de quatro, advogado, mestrando, são paulino e feliz.