Farewell

marcobrasil
2 min readDec 14, 2018

--

Este ano completo redondíssimos 20 anos escrevendo textos de mais ou menos uma página A4 toda sexta-feira. Tudo começou numa tarde de sexta-feira de 1998, quando achei uma citação tão boa em um livro que estava lendo que resolvi enviar por e-mail para meia dúzia de amigos. Ao final, a expressão “feliz sábado, @migos!” Na sexta-feira seguinte calhou de algo parecido acontecer e quando, na terceira semana, eu não mandei nada, alguém reclamou. Eu já recebia toda sexta-feira um texto, em geral mais longo, do meu amigo Neimar Duarte (que infelizmente parou com a prática tempos depois), o que certamente inspirou, mas como eu gostava de escrever aquela reclamação me motivou a fazer daquilo um tipo de ministério.

Bye bye, so long

Durante, portanto, 20 anos, eu me mantive atento ao que ocorria ao meu redor, aos livros que lia, aos acontecimentos de minha igreja, às fofices e ranhetices de meus filhos, porque qualquer coisa poderia dar um texto. Às vezes eu sentei à frente do computador sem ter absolutamente ideia nenhuma do que escreveria, sendo surpreendido a cada oração por inspiração respondida, mas acho que na maioria das vezes o embrião da ideia a ser desenvolvida já estava lá.

Para além das enormes benesses espirituais, a prática de escrever tornada em hábito me ajudou muito a publicar dois livros e a escrever mais dois, disponibilizados no formato de e-books, me ajudou demais em meu trabalho e nas lides acadêmicas.

Mas nesses 20 anos, o mundo mudou. Em 1998 o e-mail era uma ferramenta nova, ainda não universalizada de comunicação, e que colocou em contato um mundo que vivia isolado. Algumas pessoas gostavam de ler textões. Lembro das intermináveis discussões encetadas por e-mail naqueles tempos sobre futebol, teologia, política, tudo. Eu migrei a plataforma das mailinglists por e-mail para as redes sociais em algum momento, mas mantive o formato daqueles textos que enviava por e-mail. Hoje, contudo, as coisas precisam ser telegráficas e, como um homem de outro tempo, não consigo encerrar um insight espiritual com começo, desenvolvimento e desfecho em 144 caracteres. Além disso, este ano pela primeira vez falhei em diversas semanas, a correria se sobrepondo ao velho costume — e dessa vez ninguém reclamou. Por não ver mais muito sentido nesse tipo de comunicação e aproveitando a efeméride cabalística das duas décadas, concluí que é hora de parar.

Não sei como será uma vida sem o imperativo de ter de escrever algo toda semana e pode ser que eu sinta falta de o fazer, nem que seja como um desabafo unilateral, mas será ocasional. Por isso, gostaria de registrar aqui meu agradecimento aos que me acompanharam em maior ou menor medida ao longo das últimas duas décadas e desejar-lhes que daqui e até aquele dia glorioso, o Senhor os brinde a todos com felizes sábados, @migos.

--

--

marcobrasil

Cristão, adventista, marido da Tatiana, pai de quatro, advogado, mestrando, são paulino e feliz.