O grito

A história da humanidade conforme narrada na Bíblia poderia ser resumida como um horrível, sangrento e interminável fratricídio. Já começa assim, com Caim transformando sua decepção com Deus em ódio ao irmão Abel, e continua pelo relato dos povos do velho testamento. À exceção, talvez, dos filisteus, cuja origem é incerta, os outros povos apresentados na Bíblia como sendo grandes inimigos de Israel são todos primos, mais próximos ou mais distantes.

Midianitas descendem de Abraão via Quetura, sua segunda esposa e os edomitas descendem de Esaú, irmão de Jacó, apenas para dar dois exemplos.

Talvez tenhamos dado muita atenção para a ordem dada aos israelitas recém libertos do cativeiro para exterminar os povos de Canaã. Essa ordem, uma exceção óbvia à regra das Escrituras, visava estabelecer naquele ponto da Palestina por onde passariam as caravanas de comerciantes do mundo inteiro para que eles pudessem alcançar sua vocação e seu ideal de serem uma benção para todas as nações. No resto do tempo todo, a mensagem bíblica é outra: eles são seus irmãos, também foram feitos à imagem e semelhança de Deus assim como você, por isso os respeite, seja uma benção para eles, trate o estrangeiro em seu meio de forma diferente da que os povos que não Me conhecem tratam, não esqueçam o que é ter sido escravos numa nação estrangeira…

O ministério de Jesus nesta terra pode ser resumido nisso. Ele pegando no nosso ombro e apontando para o samaritano, o publicano, a prostituta, o leproso, a viúva pobre, a mulher siro-fenícia e dizendo: “está vendo ali? Ele(a) é seu(sua) irmão(ã).” E Paulo, entendendo o recado, diz que nosso inimigo não é de carne e sangue, mas está nos principados e potestades, é uma entidade espiritual que é derrotada por Deus. Nossa luta não é contra alguém, mas para permanecer em Quem vence a batalha.

A Bíblia grita que somos irmãos e primos e que nossa hostilidade não faz nenhum sentido aos olhos do Pai. Que tão somente eu escute.